Contamos a trajetória do modelo que mudou para sempre o mundo custom com motor V4 sobrealimentado e estética musculosa
Poucas motos tão ousadas fizeram sucesso como a Yamaha V-Max 1200, que
comemora este ano 30 anos de seu lançamento. Inspirada nos muscle cars,
misturava duas paixões americanas: motos custom e provas de aceleração.
Inaugurou assim o conceito de “drag-bike”, ao ser equipada com um
poderoso motor V4 de 1.200cc capaz de acelerá-la de 0 a 400 metros em
10,3 segundos e fazê-la atingir 250 km/h. Em 1985, foi apresentada como a
moto mais potente do mundo, somando 145 cv.
A ideia de lançar uma motocicleta custom de estilo agressivo e tão
emocionante de acelerar quanto um muscle car veio do então gerente geral
da Yamaha do Japão Akira Araki, após assistir a provas de arrancada em
uma viagem aos Estados Unidos. Em conjunto com uma equipe de design
chefiada por Yasushi Ashihara surgiu o esboço do que seria futuramente a
VMax, exibindo grandes tomadas de ar laterais inspiradas em jatos de
caça e ponteiras de escape cônicas apontadas para cada lado como nos
dragsters.
O motor V4 com 4 válvulas por cilindro, comando duplo e refrigeração
líquida veio da touring XVZ 1200 Venture. No entanto, os engenheiros
queriam extrair mais que os 97 cv para realmente impressionar o público.
Diversos recursos foram testados e até a instalação de um turbo foi
considerada, e logo descartada pela complexidade e espaço necessário. A
solução veio com um sistema nomeado de Vboost, que através de borboletas
controladas eletronicamente libera ligações nos dutos de admissão para
que cada cilindro seja alimentado por dois carburadores ao mesmo tempo a
partir de 6.500 rpm (são quatro carburadores, que podem alimentar outro
cilindro enquanto o próprio não está em fase de admissão). Houve também
uma versão da VMax sem o Vboost, que desenvolvia 102 cv e era exportada
para países com mais restrições a poluentes.
Aceleração estúpida
O desempenho elevado até para os padrões atuais torna a experiência de
pilotar a VMax única. “Estica-se a 2ª e a 3ª marcha e a demonstração de
força é contínua e de forma estúpida. Tudo parece igual e promete
acontecer o mesmo em 4ª e 5ª marcha”, relatava o primeiro teste
publicado por Duas Rodas, em 1985. Um pequeno
velocímetro sobre o guidão curto, típico de motos naked, indica a
velocidade crescendo vertiginosamente. Dois relógios adicionais
(conta-giros e temperatura) ficam agrupados em cima do falso tanque com
as luzes-espia, como no console central de um muscle car. A peça pintada
sobre o motor apenas esconde a caixa de ar para os quatro carburadores,
enquanto o tanque fica embaixo do tanque.
Se o motor da VMax surpreendia, não se pode dizer o mesmo do restante
do conjunto. Mesmo com o tanque de combustível sob o banco para baixar o
centro de gravidade e uma postura de pilotagem semelhante à das motos
naked, que facilita o domínio sobre a moto, o peso suspenso limitava a
agilidade e a estabilidade em altas velocidades não era digna de
elogios. Sua virtude não estava nas curvas, mas sim nas acelerações em
linha reta – como uma boa versão de duas rodas de um muscle car...
Do lançamento até a versão comemorativa de 20 anos que encerrou sua
produção em 2005, a VMax passou por poucas mudanças. A maioria delas
estéticas, como as novas rodas em 1987, variações de pintura e
acabamento imitando fibra de carbono nas partes plásticas a partir de
1999. As evoluções técnicas foram sutis, como a utilização de discos
ventilados a partir de 1986, inclusão de ignição eletrônica digital em
1990, comando de válvulas com novo diagrama de abertura para render mais
torque em baixas rotações e relação de transmissão alongada em 1991,
bengalas com 43 mm de diâmetro (antes 40 mm), novas pinças de freio de 4
pistões e alternador mais potente em 1993 e, por fim, a substituição do
filtro de óleo de papel pelo tipo cartucho em 1996.
O encerramento da produção da VMax não foi suficiente para colocar um
fim no legado de sucesso. Assim como aconteceu com outros modelos de
identidade marcante criados pela Yamaha nos anos 1980, a valorização no
mercado de usadas permaneceria ao longo dos anos e a fabricante
aproveitaria para relançá-la como uma nova moto. O retorno ocorreu três
anos depois com design que faz referência ao passado e um novo V4 de
1.679cc com 200 cv de potência e 17 kgf.m de torque. Vendida quase que
por encomenda com o maior preço da linha Yamaha atual, a nova VMax
mantém viva a fama de seu poder de aceleração brutal.