Quem procura uma moto aventureira de puro sangue, daquelas com
rodonas de 21 polegadas na dianteira, torque de sobra e posição de
pilotagem agressiva -- na qual o guidão largo faz com que o piloto dobre
os cotovelos e rode com os braços abertos --, encontra na Yamaha XT
660R uma das raras opções no mercado (brasileiro e mundial). Lançada em
2003 no exterior, ela chegou ao Brasil pouco mais de um ano depois. E
mesmo após dez anos em nossas estradas, o modelo da marca japonesa
continua bem: em 2014, foram 2.100 unidades produzidas.
Quando
foi apresentada, ela tinha a importante missão de substituir a
consagrada XT 600E, que não se adequava às normas de emissão de
poluentes com seu motor carburado. Mais leve e potente, a XT 660R trazia
sistema de injeção eletrônica como trunfo -- trata-se da primeira moto
feita no Brasil com essa tecnologia.
Para celebrar o aniversário da XT, conheça com dez motivos pelos quais o modelo ainda continua fazendo sucesso, seja qual for a estrada.
Seu motor de um cilindro e 659,7 cc de capacidade é o primeiro fator.
Com refrigeração líquida e comando simples no cabeçote para controlar a
abertura das quatro válvulas, ele produz 48 cavalos (6.000 giros) e
ótimos 5,95 kgfm de torque, atingidos a 5.520 rpm. Basta girar o
acelerador para disparar à frente dos carros e motos no semáforo.
Pilotar a XT 660R com tranquilidade é quase impossível.
As primeiras motos trail nasceram diretamente das motos de motocross.
Bastava adaptar um farol, lanterna, luzes e um retrovisor para rodar nas
ruas. Talvez a longevidade da XT 660R venha justamente dessa origem:
rodas raiadas com aro 21 na dianteira, suspensões de longo curso, guidão
largo e a silhueta esguia fazem com que o piloto senta-se praticamente
sobre o tanque de combustível, como em uma moto de motocross. Um
conjunto robusto e com excelente distância livre do solo (21 cm) que
permite superar obstáculos e arriscar até trilhas mais pesadas. O banco a
86,5 cm do chão, porém, intimida os mais baixinhos.
Embora siga a receita dos primeiros modelos trail da década de 1970, a
XT 660R ganhou uma releitura do clássico estilo on/off-road. As linhas
eram angulosas e o grafismo, chamativo. O resultado foi um design
imponente e atual, mesmo se utilizando da clássica cor azul que
caracteriza os modelos da Yamaha. O ar de modernidade vinha da injeção
eletrônica e do painel digital, até então incomum do segmento. O bom
acabamento também a ajudou a substituir sua antecessora.
A receita deu tão certo que a XT 660R manteve por muitos anos a
liderança da categoria maxitrail. Em 10 anos, foram 22 mil unidades
produzidas na fábrica da Yamaha em Manaus (AM). Em 2013, o modelo bateu
recorde de produção, quando exatas 3.304 unidades deixaram a linha de
montagem -- o pior desempenho foi em 2010, quando 1.509 motos foram
produzidas.
Críticos afirmam que a XT 660R não mudou em dez anos. A afirmação não é
verdadeira: apesar de não ter trocado a roupagem ou a motorização, em
2009 o modelo foi aperfeiçoado: para atender à nova fase das regras de
emissão, o propulsor ganhou uma sonda lambda, equipamento responsável
pela "leitura" dos gases após a combustão. Outra pequena mudança que
apenas os mais fanáticos perceberam foi a proteção do escapamento, que
passou a ser pintada de preto (foto) -- 2009 também foi o ano da chegada
da cor vermelha. Muita gente reclamou do fim da versão azul e branca,
tão marcante para fãs da marca, e fez com que a fábrica voltasse atrás:
em 2010, a combinação de cores voltou.
Pouco tempo após seu lançamento mundial, a XT 660R serviu como base
para o desenvolvimento de uma versão supermotard para o asfalto, chamada
de XT 660X. Com rodas de alumínio de 17 polegadas calçadas com pneus
esportivos, a 660X é uma moto ágil e urbana, bem ao gosto do público
europeu, e vendido até hoje no Velho Continente. Infelizmente, nunca
chegou ao Brasil.
A prova de que o torque é a principal qualidade da XT 660R é o fato de
que seu motor já equipou um modelo da família MT, sigla para "Masters of
Torque" (Mestres do Torque, em inglês). Em 2008, a Yamaha MT-03 que
chegou ao Brasil usava o mesmo motor da 660 em um conjunto naked e mais
urbano. Equipada com rodas 17 e com design ousado, a MT-03 era ágil em
mudanças de direção graças ao largo guidão. Destinada a um público mais
ligado em design, ela teve vida curta e só ficou a venda por um ano.
Apesar de versátil e de poder encarar estradas de asfalto e terra com
boa desenvoltura, a XT 660R não é uma moto para aventuras muito longas. A
começar pelo conforto oferecido pelo banco de espuma fina, uma
característica normal das motos trails puro-sangue. Outra questão é sua
baixa autonomia, que não passa de 300 quilômetros -- o tanque tem
capacidade para 15 litros e o consumo varia entre 18 e 21 km/l. Esses
"defeitos" fizeram com que a Yamaha relançasse outra versão baseada na
trail, em 2011: a XT 660Z Ténéré. Com quadro e suspensões diferentes,
ela usava o mesmo motor injetado de 660 cc, mas tinha proposta ainda
mais off-road, com conforto e autonomia. O modelo continua à venda no
país.
Nas mãos do piloto brasileiro Rodolpho Mattheis, uma unidade da Yamaha
XT 660R disputou o Rally dos Sertões de 2008. Para superar os desafios
da prova, de mais de 4.500 quilômetros, a moto recebeu diversas
alterações técnicas, como placa protetora de motor, guidão de alumínio e
guarda-mãos. Além da pintura personalizada, a moto de competição ganhou
tanque de combustível de plástico para aumentar a autonomia. O piloto
chegou em 42º na geral.
A valente XT 660R também virou moto da frota da Polícia Militar e até
do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro. A unidade preparada pelos
bombeiros traz dois cilindros de água pressurizada com mangueiras
capazes de despejar até 200 litros de uma mistura entre água e pó capaz
de apagar fogo de pequenas proporções, como automóveis, lixeiras etc.
Arthur Caldeira
Da Infomoto
Da Infomoto
Fonte: Infomoto