O ser humano é chegado
em atitudes idiotas. Entre os motociclistas (ou seriam motoqueiros?)
algumas modinhas bestas invadiram o mundo das duas rodas nacional, más
atitudes na pilotagem que podem ter consequências bem ruins para quem
pilota assim como para a motocicleta também.
Uma delas é empinar ou, o oposto, frear fortemente
com o objetivo de “empinar ao contrário”, erguendo a roda traseira do
chão, manobra conhecida por “RL”. Nos dois casos, os
agentes de trânsito podem aplicar uma multa nada suave de R$ 1.915,40,
fora a apreensão do veículo e suspensão do direito de dirigir. O texto
do artigo 175 do Código de Trânsito Brasileiro trata isso como
“utilizar-se de veículo para demonstrar ou exibir manobra perigosa,
mediante arrancada brusca, derrapagem ou frenagem com deslizamento ou
arrastamento de pneus”.
Uma empinada breve não causa danos graves ao motor
da moto. Mas isso pode acontecer quando o percurso com a roda dianteira
apontada para o céu é longo a ponto de o óleo do motor se concentrar em
local onde o “pescador” não consiga mais sugar o lubrificante do cárter e
mandá-lo às partes mais delicadas do motor. O que acontece? O óbvio:
sem lubrificação adequada, o motor se desgasta mais rapidamente e, sem
nenhuma lubrificação, ele quebra na hora.
Quanto ao “RL”, o problema não afeta tanto o motor
mas sim a suspensão dianteira e a coluna de direção, principalmente seus
rolamentos. O chassi, suspensão e freios de uma são feitos para
suportar sem problemas a freadas fortes, buracos e outros episódios do
uso normal. No entanto submeter esse conjunto a situações-limite com
frequência cobra seu preço, e alto, pois os projetistas não prevêem
resistência a tanto estresse.
Ter de trocar o conjunto de rolamentos da caixa de
direção é apenas uma das consequências dessas frenagens estilo
malabarista. Retentores das suspensão também vão para o espaço mais
cedo, assim como o sistema de freios – disco, pastilhas ou tambor e
sapatas. O quadro ou chassi também será afetado, perdendo resistência, o
que, a longo prazo, resulta em trincas e rachaduras que o comprometem
irremediavelmente.
Fazer "estouros"
Outra bobagem cometida por motociclistas é o “estouro”. Em túneis, ruas, avenidas e estradas, alguns se divertem provocando, através de uma ação muito simples (não vou ensinar…), uma forte explosão pelo escapamento. Barulho, gostemos ou não, faz parte da vida. Festas não poderiam deixar de ser ruidosas sob pena de perder totalmente a graça.
Um time entrando no estádio, fazendo um gol ou uma
grande jogada, é algo que tem de ser obrigatoriamente acompanhado de
ruídos – gritos, cantos, fogos de artifício –, assim como eventos como
Carnaval, réveillon etc. Porém a satisfação de causar deliberadamente um
forte ruído andando de moto pode assustar os outros motoristas e
pedestres.
É uma espécie de sadismo sobre duas rodas.
Felizmente, as motocicletas mais modernas, equipadas com injeção
eletrônica e escapamentos com catalisador, anularam a possibilidade do
condutor causar o tal “estouro”, mas se você é dono de um modelo mais
antigo deve saber que essa prática, além de besta, não faz nada bem ao
motor da motocicleta.
Resumidamente, o que causa o estouro pelo
escapamento é uma porção de mistura ar e combustível não queimada dentro
do cilindro que escorre para o tubo de escape e lá explode. Ou seja, o
que tinha que ocorrer no lugar certo, gerando a energia que impulsiona a
moto, acontece no lugar errado. Fora o desperdício de combustível e o
pecado ambiental, essa explosão forte no lugar indevido provoca um
estresse mecânico grande, e danos graves podem ser feitos à válvula de
escape e sua respectiva mola e sede. A chance de entortar uma válvula de
escape provocando o estouro é enorme e aí, meus amigos, o prejuízo é
sempre grande.
Como vemos, atitudes circenses, sejam ela o
estouro, a empinada ou o “RL”, podem parecer atraentes e sem nenhuma
consequência, mas não são. Tanto do lado mecânico como no que diz
respeito à lei, o melhor mesmo é deixá-las de lado. A habilidade no
domínio da motocicleta é algo admirável. Os que se julgam acima da média
nesse quesito devem direcionar esse talento para conduzir a motocicleta
com segurança. Os que estão do lado oposto, os pouco talentosos, devem
se limitar a treinar a condução segura e não tentar manobras que, no
fundo, prejudicam o bolso e a saúde, tanto física como da moto.
Fonte: http://g1.globo.com