Deixe de ser preguiçoso e lave você mesmo a moto: é melhor e mais econômico
Ê,
domingão de sol, perfeito pra um rolê de motoca e… ela está toda suja.
Muitos motociclistas nunca tiveram a curiosidade de lavar sua moto,
simplesmente levam a uma oficina, ou lava-rápido e ficam felizes da
vida. Cuidado! Existe uma mania nacional de lavar moto com água
pressurizada, pulverização de querosene ou água quente. Esqueça tudo
isso, arregace as mangas e vamos ao trabalho.
Primeiro de tudo, saiba que moto não é carro, por isso o que serve
nos carros não funciona para as motos. Aquele festival de jato de água
não faz mal ao carro porque ele tem carroceria cobrindo o motor, freios,
cabos etc. Na moto, mesmo feita para suportar as intempéries, devemos
proteger suas partes, digamos, íntimas. Todo mundo já viu o festival de
cabos e fios que passam de um lado para outro. Quando a moto recebe um
jato de água pressurizado, a umidade penetra nos chicotes elétricos e
pode provocar o maior curto circuito. Por tudo isso, sei que vou
entristecer muita gente, mas motos, a exemplo dos adolescentes, NÃO
gostam de tomar banho!
Da mesma forma, muitos componentes móveis da moto são protegidos por
anéis de borracha (os chamados o-rings), que estão na corrente e juntas
como balança, pedal de câmbio e outros. Ao mandar um jato de querosene
por cima de tudo, (ou qualquer outro solvente), estas borrachas sofrem
um ressecamento e irão rachar, perdendo a capacidade de vedar a entrada
de sujeira ou permitindo o vazamento de óleo. A água quente elimina a
lubrificação de muitas peças móveis, sobretudo rolamentos e a corrente.
Aliás, esta é a maior vítima do excesso de lavagem.
O pior de tudo, mas pior mesmo, que dá vontade de matar o desgraçado
que lavou a moto, é o maldito querosene no disco de freio. O querosene é
um solvente que leva óleo na sua composição. Caso alguém ainda não
saiba, o óleo é um excelente redutor de atrito e os freios vivem de
atrito. Eles são que nem sogras: adoram atrito! Se a gente melecar o
disco de freio com querosene, na primeira frenagem a meleca vai
impregnar as pastilhas e você terá nas mãos uma moto sem capacidade de
frear nem pensamento. Sabe o que vai acontecer? Você terá de desmontar a
roda, retirar as pastilhas e lixá-las até sair todo o querosene. Ou
então ficar uma semana rezando para ninguém entrar na sua frente. Sei
que muito féladamãe pulveriza querosene com aqueles compressores
amarelinhos que não vou citar a marca. Fuja destes caras, porque eles
devem ter convênio com o ortopedista da cidade.
Bão, procure um local abrigado do sol e prepare seu
kit-banho-na-motoca, composto de: óculos de proteção (sim, você não quer
ser um motociclista zarolho), luvas cirúrgicas (não tem coisa que
detona mais a mão do que lavar motos), pincel macio, uma vasilha, a lata
de querosene (êpa, como assim? Sim, você pode usar querosene em ALGUMAS
partes da moto) ou os produtinhos desengraxantes novos que lançaram no
mercado e que não vou dizer a marca, um balde, panos, esponja e a
mangueira.
Aquele papo de que jogar água fria no motor quente trinca o bloco é
balela, senão todas as motos de enduro e rally teriam partido ao meio
cada vez que o piloto atravessasse um rio. Mas espere o motor esfriar
antes de jogar água só para não ficar aquele vapor fedorento na sua
cara.
Comece pincelando querosene nas partes onde normalmente grudam as
sujeiras mais renitentes, como a parte debaixo do motor, nas áreas onde
respingam óleo de corrente (sem molhar a corrente com querosene), por
baixo dos pára-lamas (que ficam respingados de asfalto derretido),
cárter, balança traseira, bengalas, roda traseira (sem atingir o disco
ou cubo de freio), raios e bloco do motor. Logo depois jogue água com a
mangueira, sem pressão, só para retirar o querosene.
Derreta um pouco de sabão de côco no balde com água até fazer espuma.
Megulhe a esponja (não use aquela de dupla face porque risca os
cromados) na água e ensaboa a bichinha toda (a moto, a moto!!!), até ela
ficar toda coberta de espuma. Comece sempre de cima para baixo, da
parte mais limpa para a parte mais suja. Enxágüe com cuidado, sem
pressão, até sair todo sabão. Nas motos com escapamento saindo por cima,
tome o cuidado de cobrir a saída para evitar a entrada de água. O banco
pode ser esfregado com uma escova de cerdas macias, principalmente se
for colorido (azul, amarelo, vermelho). Tire todo o sabão.
Antes de enxugar com um pano macio (as fraldas de pano, ou camisetas
velhas são excelentes), balance bastante a moto pra frente e pra trás
para tirar o excesso de água que fica acumulado em pequenas “conchas”.
Destampe o escapamento e ligue o motor só por uns 30 segundos para tirar a
umidade. Enxugue principalmente as partes cromadas para evitar a
formação de ferrugem. Comece de cima para baixo e depois de tudo
sequinho, volte a ligar o motor por uns 2 minutos só pra secar tudo
direitinho.
Depois vem as frescuras básicas: polimento e cera, mas só a cada dois
meses, para não “gastar” as partes pintadas e cromadas. Nas peças
cromadas use limpa prata, com cuidado de usar esponja para espalhar a
cera e estopa ou algodão para tirar o excesso e dar brilho. Nas peças de
plástico, use cera à base de silicone para não ressecar. No tanque
pode-se usar cera automotiva. Mas um aviso: eu não recomendo o polimento
do tanque (nem encerar o banco) porque fica tudo mais escorregadio do
que uma tilápia ensaboada. Com a moto toda lisinha, se tiver de frear
forte, você não terá como se segurar e corre sério risco de bater com os
miúdos no tanque e fazer ovos estalados. Nas motos esportivas é pior
ainda, porque nas frenagens o peso do corpo é transferido para as pernas
vira a maior escorregação em cima da moto.
Mais dicas: * Nunca, jamais, never, passe produtos químicos nos
pneus, o famoso “pneu pretinho”, porque pneu já é preto e a química
resseca a borracha. * Não lave a moto em cima de plantas, tadinhas, elas
morrem de asfixia com o querosene. * Após a lavagem (ou lavação),
lubrifique a corrente com graxa branca e também lubrifique o cabo de
embreagem com óleo fino. * Cuidado nas primeiras frenagens porque o
sistema de freios estará molhado e frio. * Lave a moto em intervalos
maiores de 15 dias, melhor ainda a cada 30 dias. * Aproveite a lavagem
para verificar o desgaste de peças, checagem das lâmpadas e regulagens
diversas. * Os mais frescos podem retirar o tanque e banco, mas não
jogue água nestas partes, limpe apenas com pano úmido.
Fonte: Texto e fotos: Geraldo Tite Simões