Grupo de cinco motociclistas, liderados pelo brasileiro Marcelo Leite, percorre o Amazonas para vivenciar a realidade de índios e ribeirinhos
Fotos: Miguel Leite
Quando se fala em Amazônia é natural passar pela nossa cabeça vegetação
densa e fechada, animais selvagens e índios quase sempre nus.
Convenhamos, difícil é fugir desse estereótipo, não importa se o
indivíduo é um estrangeiro que pouco sabe sobre o Brasil ou até mesmo um
nativo. Fato é que a Amazônia envolve a palavra mistério, que por sua
vez instiga a descoberta.
A partida foi da pequena Curuça, no Pará, próxima da foz do Amazonas,
de onde cruzariam toda a região por 9.500 km até a nascante no Peru. A
água foi um grande obstáculo para chegar a determinadas comunidades,
então precisaram atravessar trechos em barcos e pequenas canoas que até o
fim do roteiro totalizariam 1.000 km. “Só nos restava confiar nos
transportadores locais e exercitar a fé”, brinca Leite.
O contato com os locais era um dos pontos altos da viagem. Quando os
motociclistas chegavam a uma cidade, eram atração. Surgiam muitas
perguntas, curiosidade, sempre com um clima amistoso, a ponto dos
moradores oferecerem alimento e hospedagem. “Nas comunidades à beira do
rio muita gente anda de moto, jovens, adultos e até senhoras. Por isso,
não era raro encontrar em quitandas, junto a tomates e cebolas, pneus e
kit relação. Asfalto também não falta. Os políticos entenderam que isso
faz toda a diferença na vida da população”, revela.
O contato com tribos indígenas, diz Marcelo Leite, foi muito positivo.
“Somos gratos a eles por nos mostrarem seu mundo e se desdobrarem para
nos receber bem.” Como retribuição, os expedicionários se comprometeram a
conectá-los a outros povos que também têm como parte de vida cotidiana o
rio Amazonas. Nos encontros, gravavam depoimentos de índios contando
sobre sua vida e depois perguntando algo a outros grupos que não
conheciam. As gravações nas diferentes tribos resultaram em um DVD, que
agora está em processo de legendagem e será entregue a todas as tribos
visitadas.
Os dois meses de viagem e 9.500 km percorridos proporcionaram muitas
descobertas e aprendizado aos aventureiros. “O elo comum a povos tão
diferentes que encontramos na expedição é o rio, que é essencialmente o
ar e o relógio deles. Do rio tiram o alimento, movimentam a economia, é o
meio de transporte e a diversão. Aprendemos a enxergar o rio Amazonas
como um elemento vivo.”
Um detalhe chamou a atenção do grupo nessa expedição, um sentimento já
visto em outras partes do mundo e que se confirmou agora. “O objetivo
maior de pessoas que vivem em comunidades simples é ter uma família e
poder encaminhar os filhos na vida dando educação. Às vezes nos
esquecemos disso, por isso é um tapa na cara, um amadurecimento. Pode
parecer uma ambição pequena, mas para mim é gigantesco”, conclui.