Quando
2015 virar 2016 o principal fabricante de motocicletas do país e do
planeta, a Honda, terá eliminado de toda sua linha de produtos
brasileiros um tradicional componente dos motores a combustão interna: o
carburador. Na imagem, a moto amarela é uma CG 125 Fan, umas das motos
que ainda possuem carburador na linha da empresa.
Trata-se
de um nítido caso de morte mais do que anunciada. Há muito tempo uma
nova tecnologia, a injeção eletrônica, comprovou-se capaz de cumprir a
delicada tarefa de juntar de maneira mais eficaz “A” com “B” para fazer o
motor funcionar, onde “A” é o líquido contido no tanque de combustível e “B” o
ar capturado pela ação de bombeamento do pistão. A injeção eletrônica
oferece não apenas um funcionamento mais regular ao motor como também, e
principalmente, é muito mais competente na guerra santa contra a
emissão de poluentes.
A
saída de cena do anacrônico carburador não será, no entanto, totalmente
indolor. Como um velho craque do futebol, muitos acham que sem ele no
time o futuro será pior. Pensar assim não passa de saudosismo burro, sem
respaldo nenhum na realidade. A prova é a pioneira entre as motos
nacionais equipadas com injeção eletrônica, a Yamaha YS 250 Fazer (moto
branca na imagem). Dez anos de mercado, fama de robustez, confiabilidade
e alto valor de revenda.
A
troca do velho carburador pela nova tecnologia não é apenas uma vontade
de substituir aquilo que é funciona por algo que funciona melhor. Tem a
ver também com as cada vez mais restritivas normas antiemissões de
poluentes. Para cumprir o que exige o PROMOT 4, a regra governamental
que visa normatizar a emissão de poluentes dos veículos vendidos no
Brasil, ou se recorre à tecnologias mais evoluídas ou escolhe-se o
caminho da ineficiência energética.
Não é que seja impossível
para um motor dotado de carburador atender a tais normas em termos de
emissões de poluentes, todavia isso exige um sacrifício de performance
no qual o motor, “estrangulado”, se transformaria em um incompetente,
aquém de oferecer o esperado desempenho.
Carros já não têm carburador
Injeções
eletrônicas estão presentes em 100% dos automóveis atualmente vendidos
no Brasil. Quando da eliminação do carburador na indústria
automobilística, houve gritaria, e as palavras de ordem dos xiitas
defensores do velho carburador se relacionavam a uma menor
confiabilidade do sistema de injeção associada a custo de manutenção
maior.
O
que se dizia à época é que carburador se conserta em qualquer lugar
enquanto que a injeção, pifando nos rincões mais distantes do enorme
Brasil, deixaria muitos a pé e sem esperança de salvação, pois nenhum
mecânico daria conta de fazer os motores equipados com a estranha
novidade voltar a funcionar.
Hoje,
passados 18 anos de extinção do último carro nacional dotado de
carburador, a Kombi, o que se vê é que a injeção eletrônica comprovou
ser totalmente confiável e, ao contrário de onerar os usuários, reduziu o
custo de exercício dos veículos, tanto pela menor necessidade de
manutenção se comparada ao carburador, como também pela maior
eficiência, que oferece o mencionado consumo menor e maior regularidade
de funcionamento.
"Peças mágicas"
Carburadores,
para os amantes de mecânica, são peças mágicas: um genial aparelho que,
se bem regulado/ajustado, realmente faz a diferença. O problema é
exatamente esse: exige regulagem, ajuste fino, conhecimento de causa de
quem se dispõe a trabalhar nele. Pecinhas ínfimas que entopem, juntas
que devem ser trocadas a cada desmontagem, incompatibilidade total com
combustível adulterado, peças móveis que se desgastam e uma total
dependência das famosas CNTP – condição normal de temperatura e pressão –
para oferecer o melhor.
Basta
que a temperatura mude consideravelmente ou que o veículo suba do nível
do mar aos 750 metros do Planalto Paulista, por exemplo, e adeus, lá se
foi a boa regulagem do carburador! Enquanto isso a injeção eletrônica
não só tira de letra a atmosfera de qualquer densidade como “lê” em
tempo real que tipo de combustível estão lhe oferecendo, qual a
temperatura no momento e otimiza a mistura de maneira impecável.
As
motocicletas brasileiras acima de 250 cc são todas equipadas com
injeção eletrônica o que serve de efetiva prova do melhor funcionamento
do sistema mais moderno e eficaz em absolutamente qualquer condição de
uso.
Com
a extinção do carburador nas motos de pequena cilindrada, uma página
tecnológica será virada. Ficam para trás a irregularidade de
funcionamento por conta de combustíveis de qualidade heterogênea – algo
muito comum no Brasil –, o consumo exagerado por causa das frequentes
desregulagens, natural em carburadores depois de certo período, e entra
em cena um uso exato do combustível e o benefício decorrente: motor mais
“limpo”, que queima a mistura ar-combustível de maneira correta. Com
isso, todos só temos a ganhar.
FOTOS: Raul Zito / G1 / Divulgação