Apu Gomes/Folhapress
Em meio à busca por espaço no tráfego pesado, automóveis e motocicletas têm convivência que, por vezes, extrapola os limites do bom senso |
Na semana passada, um vídeo gravado na cidade de São Paulo circulou pela internet com milhares de visualizações por parte de brasileiros e deu uma triste mostra da convivência agressiva e, por vezes, até vândala entre motocicletas e motoristas de carros no trânsito brasileiro.
As imagens flagram a disputa entre o condutor de um Volkswagen up! -- que derrubou uma moto em plena Marginal Pinheiros, uma das vias mais importantes de São Paulo -- e motociclistas que testemunharam a primeira ocorrência e decidiram reagir de modo imediata e impensado. Após fecharem o veículo, fizeram com que o motorista, acuado, tentasse fugir usando o "corredor" entre as duas faixas da esquerda. Sim: carros e motos protagonizaram um perseguição no apertado espaço deixado pelo demais, em meio ao trânsito parado.
Durante a perseguição insana, o motorista do carro colidiu com outros veículos até não ter mais para onde ir e ser cercado pelos motociclistas. A gravação termina como uma verdadeira praça de guerra: agressões físicas e até "capacetadas" no automóvel.
Comentários de internautas sobre o caso confirmam o clima de "tolerância zero": enquanto alguns disseram que o dono do up! "teve o que mereceu", outros criticaram a "reação imbecil" do grupo de motoboys. Pouca gente aceitou que a culpa, na verdade, é de todos nós. Ao esquecer que todos na rua contribuem para o caos ou para a harmonia do trânsito, nos eximimos de responsabilidade quando a situação sai do controle.
Durante a perseguição insana, o motorista do carro colidiu com outros veículos até não ter mais para onde ir e ser cercado pelos motociclistas. A gravação termina como uma verdadeira praça de guerra: agressões físicas e até "capacetadas" no automóvel.
Comentários de internautas sobre o caso confirmam o clima de "tolerância zero": enquanto alguns disseram que o dono do up! "teve o que mereceu", outros criticaram a "reação imbecil" do grupo de motoboys. Pouca gente aceitou que a culpa, na verdade, é de todos nós. Ao esquecer que todos na rua contribuem para o caos ou para a harmonia do trânsito, nos eximimos de responsabilidade quando a situação sai do controle.
Todos somos responsáveis
É inegável o enorme estresse que o carregado tráfego de São Paulo provoca na população. Pedestres, ciclistas, motociclistas e motoristas são, ao mesmo tempo, agentes e vítimas da grande "panela de pressão" em que se transformaram as ruas e avenidas da maior cidade do país. Como não há válvula de escape, as pessoas acabam se agredindo por qualquer bobagem. Uma simples fechada vira motivo para um olhar intimidador, xingamentos e gestos obscenos e até mesmo agressões físicas e crimes como atropelamentos e assassinatos.
O que fazer para frear essa discórdia? Para este colunista, só há duas soluções: a primeira delas é reeducar a ação das pessoas no trânsito, fazendo prevalecer o bom senso. Os mais velhos certamente lembrarão de uma campanha, lançada pelo Ministério da Saúde no início dos anos de 1970, que incentivava a conservação e limpeza de espaços públicos. Nela, um personagem chamado Sujismundo jogava lixo no chão e era imediatamente reprimido pelo narrador.
Cicero Lima/UOL
Pode parecer algo simplista, mas lembro que a campanha teve resultado positivo e marcou minha geração: as pessoas começaram a se incomodar mais com a sujeira, e quem era flagrado jogando lixo no chão ganhava o apelido de Sujismundo.
Se não der certo, o jeito é endurecer de verdade o controle, como aconteceu recentemente em Nova York (EUA): um grande número de câmeras nas ruas ajudaria a aplicar multas pesadas a motos que rodam nos corredores e serpenteiam entre os carros. Motoristas que trocarem de faixa sem sinalizar, pararem em fila dupla e não derem passagem a pedestres ou ciclistas, por exemplo, também seria punidos com rigor.
Para aumentar a eficiência na fiscalização, vidros escurecidos com películas passariam a ser proibidos, facilitando a identificação de motoristas que falam ao celular ou enviam mensagens por aplicativos no meio do trânsito, algo tão comum e perigoso.
Entre as duas opções, é claro que a maioria vai preferir a primeira. Acredito que ninguém queira ser vigiado de maneira tão controladora. Resta saber se estamos mesmo dispostos a abdicar dos maus hábitos em prol de um trânsito mais harmonioso e menos estressante.