Para quem não sabe, o
SINIAV nada mais é do que uma daquelas etiquetas
inteligentes (Smart Tags), que usam uma tecnologia chamada
RFID. São pequenas etiquetas metálicas, dotadas
de um pequeno chip de computador e que podem ser “acessadas” sem
fios por um outro equipamento eletrônico, chamado Scanner RFID.
A idéia é simples: Instalar uma
etiqueta dessas em cada veículo no país, para permitir que
radares, pedágios, postos de fiscalização e outros “pontos de
controle” espalhados pelas ruas e estradas possam “ler” a
etiqueta de cada veículo que passe por estes locais, aplicando
multas, identificando veículos roubados ou com licenciamento
atrasados, desrespeito ao rodízio municipal, entre milhares de
outras possibilidades de uso.
A idéia é a mesma das câmeras
com leitor de placas (LPR), com a diferença que as câmeras só
conseguem capturar uma pequena amostra dos veículos que passam
em frente as suas lentes, enquanto um scanner de RFID pode
capturar 100% dos veículos num raio de vários metros, sem o uso
de lentes e sensores óticos, sendo praticamente imune diferenças
climáticas, sujeira ou adulterações grosseiras.
Pode-se instalar um leitor
destes em um cruzamento muito movimentado e obter a
identificação de todos os veículos em todas as direções, o que
só poderia ser feito instalando-se várias câmeras leitoras de
placa. Além disso, um Scanner RFID é mais barato que uma câmera
dessas.
Muita gente ficou preocupada
com a questão da privacidade. A preocupação é justamente expor a
quem quiser todo o trajeto e itinerário de qualquer veículo,
bastando para isso encher as cidades com leitores como estes. Se
houver Scanner de RFID nas principais esquinas, seria possível
rastrear qualquer veículo desde sua origem até seu destino. Para
contornar este risco, o protocolo IAV prevê uma camada de
segurança. Essa informação não é muito clara, pois o protocolo
só pode ser acessado por empresas licenciadas e é tratado com
confidencialidade. Mas imagino que seja um tipo de criptografia,
que inviabilize que equipamentos “não autorizados” tenham acesso
a esta identificação.
Eu acho legal que o governo
esteja pensando em modernizar os equipamentos dos órgãos de
fiscalização, acho a ideia ótima. Mas tenho algumas preocupações
referentes a esta tecnologia, e acho que se não forem levadas em
consideração, podem inviabilizar o projeto.
A primeira é com relação a
tecnologia RFID. Existem estudos que mostram que essa
tecnologia, por definição, não é muito segura. As etiquetas
inteligentes podem ser “reescritas” por um equipamento muito
parecido com o Scanner, ou seja, sem fios. Uma pessoa
mal-intencionada pode simplesmente apagar todas as etiquetas em
um raio de alguns metros. Proprietários de veículos teriam suas
etiquetas apagadas e nem saberiam disso, ficando sujeitos a
penalidades por terem “adulterado a identificação do veículo”…
Penalidade obviamente injusta nestes casos. Mas como provar?
Outra consideração é com
relação a criptografia… Eu particularmente acho que não vai
demorar até aparecer algum nerd de 16 anos que consiga, no porão
da sua casa, quebrar o código do protocolo IAV. Fizeram isso com
o iPhone, com o Playstation 3, com o protocolo WEP e com outros
tantos eletrônicos… Porque não haveriam de fazer com protocolo
IAV? De posse dos códigos de segurança, seria possível programar
scanners de RFID para ler as placas, tais quais os equipamentos
do governo. Desta forma, uma pessoa mal-intencionada poderia
espalhar scanners deste pela cidade para rastrear os veículos
que quiser. Já posso até imaginar empresas de rastreamento
usando estes sensores para identificar o paradeiro de carros
roubados, shopping-centers e grandes estacionamentos usando
essas etiquetas para liberar as cancelas, praças de pedágio que
usam o próprio SINIAV em vez da Smart Tag própria deles,
particulares instalando esses scanners nas entradas de motéis, e
usando para qualquer fim que se imagine. As aplicações são
ilimitadas, só depende da imaginação de cada um.
E tem mais uma consideração:
RFID funciona por Radio Frequência. Significa que a comunicação
entre o scanner e a smart tag acontece em uma determinada
frequência de rádio. Burlar um scanner de RFID é simples, basta
ter um Jammer criando ruído na mesma frequência. Desta forma, o
scanner não consegue ler a etiqueta, e o veículo passa
despercebido. Eu posso até imaginar esses jammers sendo
fabricados como pequenos aparelhos que podem ser ligados ao
acendedor de cigarros do carro, tornando assim o carro invisível
a fiscalização.
Como pode ver, existem alguns pontos que ainda não estão claros
no SINIAV. Assim como a ideia dos radares inteligentes que
ajudam a recuperar veículos é boa, o SINIAV também parece ser
bem intencionado. Só temo que ele tenha o mesmo fim.
O prazo para o SINIAV entrar em
operação é em 2014 e já existem empresas criando tecnologia para
tornar o programa possível. Vamos aguardar para ver o que sai de
tudo isso.
fonte: www.motosblog.com.br